quinta-feira, 14 de agosto de 2014

No refúgio sombrio deste silencioso quarto,
Entrego a minha vida ao acaso do momento,
Enquanto a consciência dormita,
Envolta numa irresponsável tranquilidade,
Subtil adiar da busca de coragem
Para olhar de frente o mundo
E dizer-lhe, de olhos bem fixos no horizonte,
Que estou aqui, disposta a não vergar,
E a ganhar forças
Para arredar de mim todos os fantasmas
Que com armas poderosas
Disparam inquietações
Nos meus tão breves sonhos…

sexta-feira, 11 de julho de 2014

É nesta amarga imensidão dos dias,
Que percorro, desamparada, as estradas do silêncio
E, sem fôlego, se me apaga a voz
E se me entorpecem os sentidos.
Tento esbater em mim a consciência
E distanciar-me de mim própria
Como se não soubesse quem sou
E é tão grande o fingimento
Que, quando o cansaço me derruba
E os olhos marejados se entregam,...

Não sei mesmo quem sou,
Não me reconheço quando me observo
E não sei para que sirvo...
Que estranha e indecifrável missão
Terão escrito no programa da minha vida?

domingo, 11 de maio de 2014

Deixo-me ficar inerte
Na penumbra silenciosa do meu quarto.
Evito pensar.
Não quero sofrer,
Não quero sentir ausências nem distâncias,
Não quero sequer sonhar.
Deixo que os dias passem,
Dolentes e vazios como sempre,
E talvez o acaso trace a hora
De repor no meu rosto envelhecido
O sorriso inocente da tranquilidade...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Queria sair por aí, de rosto ao vento
E cabelos molhados pela chuva
Saltitar, alegremente, neste dia tão cinzento,
Rebolar como uma louca no relvado,
Rir às gargalhadas bem sonoras,
Colher florinhas, apanhar amoras,
Dançar alegremente no eirado,
Trautear uma canção mesmo sem voz,
Mostrar loucuras de um coração apaixonado.
E se depois eu ficasse constipada,...

Cheia de tosse e de pingo no nariz,
Que bom seria a teu lado estar deitada,
Bebendo chá com mel, talvez uns pós
E, mesmo doente, com febre, ser feliz.

segunda-feira, 17 de março de 2014


Como um velho pintor, triste e decadente,
Com mãos trémulas e imaginação perdida,
Procuro desenhar-te o rosto calmo e ausente
Na tela branca a um canto adormecida.
Por cada traço que ensaio neste meu esboço,
Uma memória emerge lenta de outros dias
E quando pinto os teus olhos neles vejo
Sonhos vividos, desejos e ousadias.
Traço teus lábios, em fino gesto delicado,
Lembrando as valsas com que a vida nos brindou,
Neles demoro o meu olhar já magoado,
Quando recordo o que fui e já não sou.
Num gesto rápido, de loucura ou desvario,
Tento apagar os traços que de ti eu sempre amei
Para guardar-te num abstrato vago e frio,
Que só eu leio, que só eu sinto e só eu sei.

quarta-feira, 5 de março de 2014

 
Nada. Absolutamente nada.
Apenas o absurdo
Que se adensa com os ventos
Em dias monótonos,
De toada fúnebre
E silêncios fantasmagóricos.
Nada. Absolutamente nada.
Apenas o abandono
No dormitar contínuo
Que gera o pesadelo

E a vontade vence.
Nada. Absolutamente nada
É o que sei
É o que sinto
É o que posso
É o que quero
É o que tenho
É o que ouso.
Nada.
Um nada absolutamente absurdo.

sábado, 1 de março de 2014

PENSO, penso, penso.
Obsessivamente penso.
E sempre concluo que pensar
Me rouba o sorriso,
Me cansa,
Me dói.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sei que as palavras me fogem.
Escapam-se, irritadas,
Quando percebem que as uso,
Que as manipulo ou até destruo,
Em frases insensatas e banais.
É talvez a minha cobardia,
O medo de as deixar falar,
De as deixar ter a ousadia
De espelharem esta alma aos demais.
Prefiro, ainda que com dor,

Manter só para mim esse segredo,
Guardá-lo cá dentro com rigor
Para evitar o riso, a crítica, a ironia
Ou que ousem revelar com despudor
A verdade, o sonho, o desejo, a fantasia...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Não sei se é o tempo,
O tempo que se arrasta,
Se a chuva, o frio ou o vento forte,
Não sei o que me oprime e me destrói,
O que me faz chorar perdidamente,
Se é o dia, a noite ou a má sorte.
Só sei que na minha alma não há esperança
E os sorrisos dóceis já escasseiam
E as palavras, aos poucos, já rareiam
E são parcos os momentos de bonança....

Tenho em mim um turbilhão de sentimentos,
Dúvidas, revoltas, medos e terrores
Ânsia, desespero, raiva e até dores
Que me fazem lavrar estes lamentos
E sentir que nada sou, que nada valho,
E que no mundo estou, mas sem ventura,
Sozinha, triste, frágil e insegura
Como uma pobre gotícula de orvalho…

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Do céu nublado e longínquo do ocidente
Saem filtrados brilhantes raios de luz
Que pintam o mar naquela tarde ardente
E desenham uma paisagem que seduz.

Na quietude do mar repousam os meus olhos
E penso em ti, lá longe, tão ausente
E sonho com uma vida sem dor e sem escolhos
Contigo ao lado, juntinhos, para sempre.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Se...
Se a vida não fosse condicionada por constantes conjunções condicionais
E o ritmo dos dias se conjugasse sempre de modo regular
Talvez eu conseguisse seguir rumo ao futuro como os demais
De coração tranquilo, em paz, sem temer nem questionar.
Não é assim a vida, não sei se por bem ou se por mal.
Ela exige de cada um de nós a razão forte a controlar
Mesmo que os nossos olhos vertam lágrimas com sabor a sal.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

 
 
Parti a couraça de ferro frio e forte
Que a vida talhou e me impôs, sem piedade.
Deixei-a fissurar, perdeu a rigidez
E, pela fenda, que cresce a desnorte,
Assoma, sem pudor, muita fragilidade.
Não quero que me olhem!
Virai-vos, por favor!
Foi apenas um momento de má sorte,
Que surgiu, que passou e já se foi.
Suturei o ferro a fogo e dor...

E eis-me aqui de novo reerguida
Para dar o rosto, a face, o peito, a vida,
Sem vacilar, sem me sentir perdida
Neste mundo agreste e impiedoso,
Cujos caminhos inóspitos e incertos
Tornam este percurso doloroso.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

 
Às vezes, no silêncio do meu quarto,
Dou por mim a questionar,
Sem um motivo aparente,
Os mistérios insondáveis
Dos seres vivos e pensantes
A quem chamamos de gente.
"Todo o homem é uma ilha"
Já dizia Saramago,
Bem perdida em alto mar,
Agitada por tufões,...

Pelas ondas furiosas,
Por terramotos mentais
Que soam como trovões.
O ser humano é mistério,
Com pistas certas e erradas,
E, por mais que nós tentemos,
As chaves desse segredo
Estão com ele bem guardadas.
Na caminhada da vida,
Vamos lendo alguns sinais
Que nos fazem perceber,
Mas com dúvidas imensas,
Os meandros dos demais...
E prosseguimos a luta,
Da juventude à velhice,
Com consciência perfeita
Que cada ser de si só mostra
A face que lhe convém
E, por mais que nós pensemos,
Por muito que analisemos,
Cada um mal se conhece
E não conhece mais ninguém.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Na imensidão do silêncio em que mergulho,
O pensamento solta o freio limitador
E, numa batalha que eu perco sem orgulho,
Faz-me sentir prisioneira desta dor.
Rabisco obsessões em brancas folhas,
Esboço planos novos a viver
E, prometendo, a mim mesma, novas escolhas
Acabo sempre sem saber como esquecer.
Assim passam os dias, passa o tempo
E eu vou ficando mais velha e muito dura
E quando paro e olho para dentro
Lamento muito esta minha face escura.
Adeus a mais um velho ano
Duro ano, de tantas incertezas,
De tanta agonia e desengano,
De medos, de perdas, de tristezas.
Para o novo ano, não quero pedir nada,
Porque acredito que nada nos é dado.
Tenho sonhos (ainda sou ousada)…
E desejos em número ilimitado.
Desejo ter saúde, paz, amor
E que, no nosso mundo inteiro,...

Acabe a dura guerra, acabe a dor,
Que não haja batalhas por dinheiro.
Que haja trabalho por fazer,
Risadas entre amigos, noite e dia,
Que tenhamos vontade de viver
E que sintamos sempre a alegria.
Que o amor não prime pela ausência
E que os dias se contem por felizes,
E que tenhamos sempre consciência
Que na vida não passamos de aprendizes.