terça-feira, 21 de agosto de 2012



Na quietude da tarde alentejana,
Que adormece todos os sentidos,
Procuro na memória já insana
E não encontro momentos já vividos.
Questiono-me por isso.
Em vão? Talvez.
Mas eu, que tenho a mania dos porquês
E não sei libertar-me,
Não desisto.
Fico prisioneira de mim mesma,
Numa louca e recorrente obsessão
E, entre o delírio e a razão,
Reencontro algumas forças e insisto.
Então, construo castelos na areia
Que de frágeis se dissolvem com o vento.
E fico, de mãos vazias
E de olhar perdido, que vagueia,
Numa indolência que me consome o tempo.
Não resisto e deixo-me ficar
À espera da noite e das estrelas,
Em busca de razões para sonhar.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Como uma alma abandonada
No escuro labirinto da vida
Por vezes, procuro caminhos
E muitas, fico perdida...
Então, curvo a cabeça confusa
Sobre os joelhos inertes
E fico horas a fio
Em morte antecipada.
Não vejo anjos nem demónios,
Não vejo nada...
É o vazio também.
Então, como um castigo,
Reergo-me,
Abro os olhos,
Perscruto o fundo do túnel,
Nem sempre vejo o fim,
Nem sempre encontro a luz.
E, cansada, perco a força
Para continuar em frente,
Perdida,
Confusa,
Culpada,
Carente...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tu, ignorante,
Que te recusas a ver
O nascer do sol,
A beleza da manhã,
O vermelho das flores,
A carícia do vento,
A ternura dos mares...
Tu, que já não queres
Beber água das fontes,
Correr pelos riachos,
Ver o brilho das estrelas,
É tempo de acordares
E, de braços abertos,
Beberes
O sumo dos dias,
O veludo da brisa,
O mistério do luar.
É tempo! Não o deixes passar!
Queria que os teus braços me vestissem
Como um fino tecido acetinado
E que os teus lábios selassem minha boca
Como se o mundo tivesse terminado.
 
Queria ser a luz do teu olhar
E adormecer ao som da tua voz
E suspender até o respirar
Para te ter por um momento a sós.

Mas o destino cruel assim não quis
E no peito vai crescendo este tormento
Os meus dias são pintados a matiz
De ténues alegrias e muito sofrimento.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Não sei por que te espero
Na imensidão dos dias
E a esperança se esvai
Com o cair da noite...
Lá longe, distante,

Agitas os meus sonhos,
Mas o sonho é efémero
E a realidade dura.
Eterno é este fogo
Que não se extingue nunca...

 
E divido-me, divido-me
Entre o dever e o poder
Entre o querer e o recusar
Entre o sonho e o castigo.
Todos os dias me multiplico
Em teias confusas de mágoas,
De desejos, de afetos,
De sonhos e utopias...
Subtraio todo o excesso
Por vezes, o necessário...
E torno o resultado negativo.
Somo inúmeros fatores
Que elevo a uma alta potência
E representam as dores
De procurar resolver
As inequações do ser
De me saber um misto
De quase tudo e muito nada
Polvilhado de impotência...
Todos os dias são iguais,
Os mesmos gestos,
Os mesmos sonhos,
Os mesmos ais
E a fadiga desmesurada
Que te adormece
Dias e dias
Para que o tempo
Não dure demais.
Suave penumbra que me acolhes
No teu manto fresco acetinado,
Deixa esvoaçar meu pensamento,
Deixa-me seguir o triste fado.

Quero apenas sentir-me em liberdade,
Embalada pelo mar e pelo vento
E gritar bem alto à saciedade
Tudo o que sinto e trago cá dentro.
 

Talvez um dia te liberte então
E deixe entrar a luz na minha vida
E que ela transforme o meu coração
E lhe dê alegria por vezes esquecida.