segunda-feira, 17 de março de 2014


Como um velho pintor, triste e decadente,
Com mãos trémulas e imaginação perdida,
Procuro desenhar-te o rosto calmo e ausente
Na tela branca a um canto adormecida.
Por cada traço que ensaio neste meu esboço,
Uma memória emerge lenta de outros dias
E quando pinto os teus olhos neles vejo
Sonhos vividos, desejos e ousadias.
Traço teus lábios, em fino gesto delicado,
Lembrando as valsas com que a vida nos brindou,
Neles demoro o meu olhar já magoado,
Quando recordo o que fui e já não sou.
Num gesto rápido, de loucura ou desvario,
Tento apagar os traços que de ti eu sempre amei
Para guardar-te num abstrato vago e frio,
Que só eu leio, que só eu sinto e só eu sei.

1 comentário:

Graça Pires disse...

Tentar fazer o retrato de alguém para conseguir fazer o seu retrato...
Beijo.