sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Chora o céu e o seu choro ouve-se baixinho
Num tom nostálgico, monótono, dolente
Enquanto eu, olhando no vazio,
Sinto que o mundo me é indiferente.
Não me interessa o sol, o vento ou o frio,
Não distingo a tarde da noite ou do dia,
E fico isolada num canto sombrio,
Pensando em ti, amor, que eu tanto queria...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Lá fora, em cadência, a chuva cai
E cada gota de água transparente
Que tilinta na terra ressequida
Acaricia a crosta dura e quente
De que a custo ainda brota vida...
E os homens que já sem alegria,
Sem forças, com futuros impedidos,
Asfixiavam neste mundo quase louco
Renovam, agora, a pouco e pouco
A esperança com sonhos coloridos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012



Na quietude da tarde alentejana,
Que adormece todos os sentidos,
Procuro na memória já insana
E não encontro momentos já vividos.
Questiono-me por isso.
Em vão? Talvez.
Mas eu, que tenho a mania dos porquês
E não sei libertar-me,
Não desisto.
Fico prisioneira de mim mesma,
Numa louca e recorrente obsessão
E, entre o delírio e a razão,
Reencontro algumas forças e insisto.
Então, construo castelos na areia
Que de frágeis se dissolvem com o vento.
E fico, de mãos vazias
E de olhar perdido, que vagueia,
Numa indolência que me consome o tempo.
Não resisto e deixo-me ficar
À espera da noite e das estrelas,
Em busca de razões para sonhar.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Como uma alma abandonada
No escuro labirinto da vida
Por vezes, procuro caminhos
E muitas, fico perdida...
Então, curvo a cabeça confusa
Sobre os joelhos inertes
E fico horas a fio
Em morte antecipada.
Não vejo anjos nem demónios,
Não vejo nada...
É o vazio também.
Então, como um castigo,
Reergo-me,
Abro os olhos,
Perscruto o fundo do túnel,
Nem sempre vejo o fim,
Nem sempre encontro a luz.
E, cansada, perco a força
Para continuar em frente,
Perdida,
Confusa,
Culpada,
Carente...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tu, ignorante,
Que te recusas a ver
O nascer do sol,
A beleza da manhã,
O vermelho das flores,
A carícia do vento,
A ternura dos mares...
Tu, que já não queres
Beber água das fontes,
Correr pelos riachos,
Ver o brilho das estrelas,
É tempo de acordares
E, de braços abertos,
Beberes
O sumo dos dias,
O veludo da brisa,
O mistério do luar.
É tempo! Não o deixes passar!
Queria que os teus braços me vestissem
Como um fino tecido acetinado
E que os teus lábios selassem minha boca
Como se o mundo tivesse terminado.
 
Queria ser a luz do teu olhar
E adormecer ao som da tua voz
E suspender até o respirar
Para te ter por um momento a sós.

Mas o destino cruel assim não quis
E no peito vai crescendo este tormento
Os meus dias são pintados a matiz
De ténues alegrias e muito sofrimento.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Não sei por que te espero
Na imensidão dos dias
E a esperança se esvai
Com o cair da noite...
Lá longe, distante,

Agitas os meus sonhos,
Mas o sonho é efémero
E a realidade dura.
Eterno é este fogo
Que não se extingue nunca...

 
E divido-me, divido-me
Entre o dever e o poder
Entre o querer e o recusar
Entre o sonho e o castigo.
Todos os dias me multiplico
Em teias confusas de mágoas,
De desejos, de afetos,
De sonhos e utopias...
Subtraio todo o excesso
Por vezes, o necessário...
E torno o resultado negativo.
Somo inúmeros fatores
Que elevo a uma alta potência
E representam as dores
De procurar resolver
As inequações do ser
De me saber um misto
De quase tudo e muito nada
Polvilhado de impotência...
Todos os dias são iguais,
Os mesmos gestos,
Os mesmos sonhos,
Os mesmos ais
E a fadiga desmesurada
Que te adormece
Dias e dias
Para que o tempo
Não dure demais.
Suave penumbra que me acolhes
No teu manto fresco acetinado,
Deixa esvoaçar meu pensamento,
Deixa-me seguir o triste fado.

Quero apenas sentir-me em liberdade,
Embalada pelo mar e pelo vento
E gritar bem alto à saciedade
Tudo o que sinto e trago cá dentro.
 

Talvez um dia te liberte então
E deixe entrar a luz na minha vida
E que ela transforme o meu coração
E lhe dê alegria por vezes esquecida.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Pudesse eu repousar o meu olhar
No teu rosto cansado e entristecido
E percorrer teu corpo devagar
Como se nada tivesse acontecido.

Pudesse eu tocar os teus cabelos
E enrolá-los nos meus dedos carinhosos
E ficaria assim nos meus desvelos
Beijando os teus lábios amorosos.

Mas a vida nada disso nos concede
E o olhar continuará como quem pede
Que este sonho se torne realidade.

E se um dia o sonho acontecer
E eu puder tocar esse teu ser
Saberei que foi boa esta ansiedade.
 
Deixa-me enrolar com lentidão
Nas ondas do silêncio desejado
E com elas percorrer a imensidão
Do sonho de estar sempre a teu lado.

 Deixa-me ficar, assim, no esquecimento
Mesmo que haja sol ou faça frio
E nada mais sentir senão o vento
Que ao longe provoca um assobio.

 Deixa-me pensar que já não sou
Que nada quero, nada posso ou desejo
E que o pesadelo terminou
Com o perfume fresco do teu beijo.

terça-feira, 5 de junho de 2012


Anda comigo ver os aviões
Que se preparam para levantar,
Anda comigo soltar uns balões,
Para que eu possa descansar.

E se quiseres podemos correr,
Podemos mesmo comer um gelado,
Talvez brincar e quem sabe ver
As aves voando sobre este telhado.

Depois podemos andar de mão dada,
Pelas ruelas ou juntinho ao mar,
Trocar beijinhos por tudo e por nada
E ficar assim até ao jantar.

Viremos, então, com a alma nova,
No rosto o sorriso, pleno de prazer,
E ficaremos bem encostadinhos,
Pela noite dentro, sem nada dizer.

Deixa-me ficar muda e pensadora,
Sobre o teu peito tão acolhedor,
E pensar que a vida nunca é traidora
E que estás aqui, junto a mim, amor.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Silêncio

Às vezes é no meio do silêncio
Que recordo a minha vida a cada passo
E me enlevo, e me encanto
Com tudo o que fiz e já não faço...
Às vezes é no meio do silêncio
Que teço esta enorme fantasia
E imagino os teus braços
E o teu sabor a maresia...
Às vezes é no meio do silêncio
Que imagino o futuro por viver...
E recordo tudo aquilo
Que nunca, nunca mais,
Vou querer esquecer...
Às vezes é no meio do silêncio
Que ouso mergulhar em novas águas
E as memórias do passado
Me fazem sentir todas as mágoas...
Às vezes é no meio do silêncio
Que fico adormecida sem querer
E acordo, só mais tarde,
E vejo que a vida é p'ra viver...

(Fantasia ao sabor do trautear da canção "Silêncio e tanta gente", 29.05.2012)

sábado, 21 de abril de 2012


Ouço o silêncio que me envolve
Numa camada espessa de vazio...
Já nada espero,
Nem sei se quero
Voltar a entrar nesse navio

Ou se prefiro ficar
Ancorada para sempre neste cais,
Mesmo que o sol me queime
E a chuva me fustigue
E as ondas me façam sofrer mais.

quinta-feira, 19 de abril de 2012


Não sei porque te espero
Na imensidão dos dias
E a esperança se esvai
Na noite sem calor...
Lá longe, bem distante,
Surges nos meus sonhos,
Num desenho abstrato
Pintado a sangue e dor.
Miragem tão fugaz
Do passado que não volta,
Da memória, da saudade
De todo o teu amor.


Bem aventurados os pobres de espírito
Bem aventurados os loucos
Bem aventurados os irresponsáveis
Os preguiçosos, os caloteiros
Os incumpridores, os falsificadores,
Os traidores, os mentirosos,
Os hipócritas e os corruptos,
Os que não pensam, os gastadores.
Bem aventurados todos eles,
Por terem a esperteza de viver o céu na terra
E mandar sofrer nela os cumpridores!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

 
 
Queria transformar as minhas mãos
Num pincel de finas cerdas, colorido
E desenhar ao longo do teu corpo
Os sentimentos que, falando, não te digo.
Queria ser a tela onde pudesses
Marcar os teus devaneios loucos
E ser também o modelo que usasses
Para me ires desenhando aos poucos.
Nada disso sou e nada tenho
Neste mundo real e tão cruel
E resta-me a solidão da noite fria
E os sonhos desenhados em papel.

Se por um dia, um só dia
Eu pudesse voar em liberdade
Esquecer tudo o que penso
E livrar-me do que em mim é ansiedade
Percorrer montes e vales
Mergulhar nas águas das ribeiras
Descansar no campo bem florido
Eu seria feliz por um só dia
Mas teria forças para ver
Tudo o resto que vivo sem sentido...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Hoje quero imaginar-te junto a mim
Numa cumplicidade  promissora
E, de olhos fechados, percorrer
A tua pele macia e tentadora…
Construir castelos no meu peito
E tornar-te para sempre o meu rei
Fazer soar trombetas de vitória
E realizar os sonhos que sonhei…