quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Desabafos

Há dias em que me pergunto por que motivo ainda me preocupo com questões relacionadas com o comportamento e aprendizagens dos alunos. À medida que os anos vão passando, apercebo-me que estou continuamente a remar contra a maré e que, por muito que me esforce, nada vou conseguir. Mais! Apercebo-me que estou a ficar sem forças para remar. Isso deixa-me apreensiva. Muito. Tenho medo de, um dia, atingir um ponto de saturação tão grande que perca a cabeça e condene para sempre a minha vida profissional.
Que motivos me levam a este estado de alma? Diversos. Os alunos estão, cada vez mais, desmotivados. Não trazem material. Não passam apontamentos. Não lêem. Não escrevem e, quando o fazem, é um autêntico desafio decifrar os seus textos. Usam todas as estratégias possíveis para destabilizar as aulas, desde o uso do telemóvel aos fones dissimulados dentro da roupa e por entre os cabelos. Os trabalhos de casa, quando os "fazem", são puro exercício de "copy & paste" ou são feitos pelos explicadores.
Os pais, por seu lado, ou porque têm de correr para ganhar para as inúmeras despesas (algumas sem sentido...) ou porque compram a sua paz a qualquer preço, deixam que os meninos/jovens vivam em autogestão. Saem quando querem, independentemente da idade; gastam o que querem, independentemente do rendimento familiar; vêem o que querem, porque têm, desde que vieram ao mundo, um aparelho de televisão, uma "playstation" e um computador com "webcam" no seu quarto... O pior: passaram a ser os únicos detentores da verdade (neles acreditam piamente os familiares e, se for preciso, os juízes, o governo, o país inteiro).
Os psicólogos, por seu lado, "almofadam" todos os que têm um perfil que evidencia mais fragilidade ou aqueles cujos pais até sabem as "vantagens" que daí podem colher... E temos então os disléxicos, os afásicos, etc. Os hiperactivos!!! Os traumatizados!!!Os sensíveis!!
É evidente que esta não é a foto da totalidade dos nossos alunos. Muito mau seria se fosse! Também há alunos excelentes, trabalhadores, educados! Também há pais preocupados, interessados em acompanhar o percurso escolar dos seus educandos. E existem psicólogos muito competentes, que sabem avaliar em consciência e se dispõem a colaborar em vez de censurar o trabalho dos educadores e professores. Lamentavelmente, também há alunos com fome, sem dinheiro para materiais, mal vestidos, sem família; pais com problemas de saúde, com dificuldades económicas, sem conhecimentos nem disponibilidade para ajudar os filhos. Contudo, penso que estas desculpas não servem para mais do que uns quinze por cento dos alunos.
Finalmente, os professores. Como em todas as profissões, há bons e maus profissionais. Não sei se exagero ao dizer que serão cada vez piores se o clima que vivemos nas escolas continuar assim. Os professores passaram a quase viver nas escolas e esgotam muitas das suas capacidades a tentar pensar em estratégias para melhorar o rendimento dos alunos (dos que faltam, dos que não estudam, dos que não trazem material, etc). No resto do tempo, preenchem papéis, tiram faltas, telefonam ou escrevem aos encarregados de educação, fotocopiam material para os alunos atirarem logo para o esquecimento. E, por mais que se esforcem, eles serão, aos olhos da maior parte dos que se pronunciam sobre o tema, os únicos culpados! Isto justifica brilhantemente as quotas mínimas de menções de Excelente e Muito Bom de que as escolas dispõem para classificarem os seus professores. Mais: justifica a guerra "civil" que, mesmo que não se deseje, acaba por se instalar entre estes profissionais.
Não sei até quando vou resistir. Estou num processo de auto-regulação do dispêndio das minhas forças num processo que promete encher inúmeras páginas. Enquanto se souber escrever. Ou enquanto se puder.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Novo acrílico...