segunda-feira, 28 de outubro de 2013

 
 
Tenho um mundo todo por contar-te
E é no silêncio que adormeço
Sem saber de ti, sem que te veja...
Talvez nos meus sonhos matinais
Te encontre de braços abertos
E neles repouse até o sol brilhar
E, num beijo louco,
Adivinhes o que te quero contar...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013


É a chuva, esta chuva impiedosa,
Que te traz ao meu sonho, ao meu regaço,
E ouvindo-a na noite silenciosa
Sinto a ausência do teu beijo e teu abraço.
Lá fora, nas pedras frias da calçada,
Gemem os beirais um choro sentido e lento
E eu, de uma forma inusitada,
Não quero adormecer neste tormento.
Procuro compreender o triste fado
Fecho os olhos e viajo ao tempo ido
E num instante breve e desejado
Volto a ter-te a meu lado adormecido.
Que chova agora, ribombem os trovões
Ou que até surja bem forte a tempestade
Não temo a vida tão cheia de ilusões
Mas não quero voltar à dura realidade…

terça-feira, 15 de outubro de 2013


São cada vez mais brancos os cabelos
Que moldam os rostos tristes, enrugados,
De olhares petrificados na ausência
E as mãos, sobre o regaço abandonadas,
Hesitam entre a revolta e a clemência.

 
Lá longe, na memória perturbada,
Vão ficando os sonhos por cumprir
E, em vez de uma vida assegurada,
De um entardecer de tons rosa colorido,
Veem os seus obrigados a partir
Calando a dor de um coração ferido…

 
Não foi o que quiseram ou sonharam,
Nem pensaram assim o seu porvir…
Arrastam-se pelos dias, sem esperança,
Sem pão, sem forças, sem amor…
Não sabem o que a vida lhes reserva
Mas sofrem, em silêncio, a sua dor.
E olham os homens pequeninos
A quem prometeram, um dia, a liberdade
Sabendo que o brilho dos seus olhos
Durará apenas a inocência da idade…

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

 
 
LAMENTOS

Lamento a tristeza dos olhares
Que vislumbro no rosto envelhecido
Dos homens que já foram gente,
Que um dia acreditaram
Que era passado o sofrimento imposto,
Que nada poderia ser pior
Do que as suas míseras infâncias,
Sem comida, sem brinquedos,
Sem roupa, sem escola,
Sem um tecto, sem nada na sacola…
Esses homens que se guiaram pelo sonho,
Que sofreram em silêncio amordaçado,
Na esperança de um futuro diferente e mais ousado
E, um dia, conseguiram…

Lamento ler, agora, em cada um deles,
Não o sonho mas sim desilusão,
Não a esperança, não a paz nem a vontade,
Mas apenas o olhar que transborda de ansiedade,
O gesto que esmorece e se arrepende
Não do que foi, do que fez ou do que sente
Mas daquilo que a vida lhe tirou,
Das traições daqueles a quem confiou
A semente da luta que foi sua,
Que um dia o fez sair à rua,
Para saborear o gosto à liberdade.

E, hoje, todos eles, já velhos e cansados,
Com filhos sem futuro mas criados,
Nada têm, nada esperam, nada ousam
E perdem o brilho no olhar,
Sentem a raiva, o cansaço de esperar
Pelo reino que lhes fora prometido
E que, agora, sem rumo nem futuro,
Se arrastam pelas vidas ensombradas
E aguardam impacientes a mudança
Ou, então, o fim libertador
Que, depressa, os poupe a tanta dor.

07.10.2013