segunda-feira, 7 de outubro de 2013

 
 
LAMENTOS

Lamento a tristeza dos olhares
Que vislumbro no rosto envelhecido
Dos homens que já foram gente,
Que um dia acreditaram
Que era passado o sofrimento imposto,
Que nada poderia ser pior
Do que as suas míseras infâncias,
Sem comida, sem brinquedos,
Sem roupa, sem escola,
Sem um tecto, sem nada na sacola…
Esses homens que se guiaram pelo sonho,
Que sofreram em silêncio amordaçado,
Na esperança de um futuro diferente e mais ousado
E, um dia, conseguiram…

Lamento ler, agora, em cada um deles,
Não o sonho mas sim desilusão,
Não a esperança, não a paz nem a vontade,
Mas apenas o olhar que transborda de ansiedade,
O gesto que esmorece e se arrepende
Não do que foi, do que fez ou do que sente
Mas daquilo que a vida lhe tirou,
Das traições daqueles a quem confiou
A semente da luta que foi sua,
Que um dia o fez sair à rua,
Para saborear o gosto à liberdade.

E, hoje, todos eles, já velhos e cansados,
Com filhos sem futuro mas criados,
Nada têm, nada esperam, nada ousam
E perdem o brilho no olhar,
Sentem a raiva, o cansaço de esperar
Pelo reino que lhes fora prometido
E que, agora, sem rumo nem futuro,
Se arrastam pelas vidas ensombradas
E aguardam impacientes a mudança
Ou, então, o fim libertador
Que, depressa, os poupe a tanta dor.

07.10.2013

1 comentário:

Ana Tapadas disse...

A beleza de um poema que merecia a beleza de um dos teus quadros a ilustrá-lo...

beijinho