Quase oito da manhã. Domingo, dia de sol,
Com luz demais para os meus olhos cansados…
Em passo lento, em busca dum café forte
Que me alimente as forças que não tenho,
Atravesso o jardim, morada quase eterna,
De uns velhos que ali estão plantados,
De manhã à noite.
Torneio os seus lugares cativos,
Para evitar os seus olhares e a má-língua.
Comigo se cruzam várias personagens:
Os que correm, os que fogem,
Os que me evitam, cabisbaixos,
Os que têm tatuados nos rostos
E cristalizados nos olhos,
Os demónios em fogo de uma noite de álcool.
Sentada, beberico o meu café,
Mas não consigo ficar indiferente:
Sempre as mesmas personagens,
Os mesmos vícios a gastar,
As mesmas barrigas a render,
A mesma degradação humana.
Pergunto-me: isto é só crise?
Não o creio. É um modo de vida.
É falta de vontade de mudar.
É seguir o caminho mais fácil,
Mesmo à conta de outros que se esforçam.
Acabo o meu café e regresso.
Vejo a minha gata na cestinha
E invejo-lhe a irracionalidade.
Quanto a mim, invariavelmente,
Voltarei a tomar outros cafés,
A ver as mesmas flores, a mesma gente…
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